segunda-feira, fevereiro 18, 2008

UM DIA DE MOSSORÓ

UM DIA DE MOSSORÓ

Por William Pereira da Silva

Geralmente acordo às seis da manhã, faço minha higiene corporal, vou ao quintal ouvir o canto dos pássaros, tomo café e me preparo para a rotina do dia-a-dia.
Este dia para mim seria igual aos outros, mas senti um presságio que não seria um dia comum, havia algo dentro da minha alma um sentimento de tristeza, o que seria?
Todas as manhãs, de segunda a sexta-feira vou deixar minha filha mais velha na URFESA, retiro a moto da garagem e lá vamos nós cumprir nosso itinerário. Ao chegar ao cruzamento das ruas Marechal Deodoro com Prudente de Morais vejo um fato inusitado, há um semáforo quebrado virado em sentido contrário com as luzes verde e vermelho acessas ao mesmo tempo, fazendo com que no sentido em que vou, haja dois semáforos para orientar-me no trânsito, aquele que seria o normaL no sentido em que ia piscava só o amarelo. Para um motorista de fora da cidade não conhecedor do nosso trânsito seria motivo de surpresa e gozação, o mesmo não saberia o que fazer. Então teríamos de ter cuidado para fazer o cruzamento. Logo em frente no cruzamento da Rua Marechal Deodoro com Avenida Dix-Neft Rosado o semáforo simplesmente estava apagado, não havia um guarda de trânsito orientando nada, sendo um cruzamento de bastante fluxos de carros, pessoas teriam de atravessar a avenida para a UERN, URFESA, FEIRA DO BODE, CEFET, AREIA BRANCA, CONJUNTO 30 DE SETEMBRO, isso às sete da manhã era um verdadeiro caos, precisava muito cuidado para fazer o cruzamento. Conseguimos sair dos congestionamentos ilesos. Suspirei aliviado por um momento, porém há uns cem metros na Avenida Dix-Neft-Rosado havia um outro congestionamento motivado por um acidente de uma moto com uma carreta, o motoqueiro estava no chão, algumas pessoas prestavam socorro a vitima, Segui em frente, tinha de atravessar toda essa avenida para chegar na Universidade. Ao chegar a frente ao Colégio Padrão, outro congestionamento se formava para o guarda de trânsito permitir a travessia dos alunos desta escola, haja demora em desafogar o trânsito. Ao sair dali mais ou menos a uns duzentos metro tem a ponte Rômulo Argentiére onde havia mais um engarrafamento, parei a moto para ver o que estava acontecendo, duas carroças puxadas por jumentos atravessam a ponte lentamente em sentidos contrários, uma ia outra vinha, os carros não tinham opção de ultrapassagem, foram minutos de buzinaço, gritos, xingamentos e as carroças lentamente fizeram seu trajeto. Conseguimos passar da ponte, mais na frente, mais carroças tornava o fluxo de trânsito lento, era dia da feira do Bode, muitas carroças utilizavam a avenida neste dia. Finalmente deixei minha filha na URFESA com atraso de uns vinte minutos.
Retornando da via-crúcis voltei para casa para ver qual seria minha agenda do dia.
Precisava compra um software de envio de e-mail em massa, parei numa loja, entrei, percebi um funcionário atendendo um outro freguês, um rapaz sentado no birô, deveria ser o gerente, nem o vendedor, muito menos o que estava no birô não olhou para mim, olhei para a hora no celular, era 8h15min, fiquei parado esperando ser atendido, fiquei na expectativa esperando o vendedor terminar com o outro freguês ou alguém aparecer e ser atendido. Exatamente 8h25min o vendedor dirigiu-se a mim, olhou, disse bom dia. Depois de dez minutos fui atendido e o suposto gerente nem olhou e também o que queria não havia na loja. Saí em direção ao Banco do Brasil, estacionei a moto em frente à Catedral, na Praça Vigário Antonio Joaquim, um flanelinha com aspecto de estar drogado, abordou-me, de forma grosseira dizendo que não poderia estacionar a moto ali, perguntei a ele o porquê, ele respondeu que aquela moto velha estava tomando o lugar dos carros que ele ia lavar, rebati dizendo que eu tinha o mesmo direito de estacionar ali devido não haver placa sinalizadora proibindo moto de estacionar, portanto eu podia estacionar, ele ainda de forma grosseira disse que ia tirar a moto a força, então apelei e de voz altiva afirmei que pagava todos os impostos ao governo, a moto estava rigorosamente em dia e ele não se atrevesse a nem pegar na moto, autoritário teimava em dizer que tiraria. Ao ver um policial do trânsito solicitei sua ajuda indagando se eu podia deixar a moto lá, o policial afirmou que sim, foi quando ele se afastou deixando-me em paz momentaneamente. Já nervoso me dirigi à agência do Banco do Brasil, entrei e vi filas enormes, mas precisava sacar dinheiro no caixa eletrônico, respirei fundo, contei até dez, permaneci na fila por uns quarenta minutos, quando chego ao caixa eletrônico, um funcionário do banco estava varrendo e senti a vassoura bater em meus pés, olhei para ele serio e perguntei se deixava terminar minha operação, ele afastou-se, volto a operar a máquina, para minha surpresa e indignação outra funcionário se aproxima do caixa que eu estava, sem a mínima cerimônia me avisa que tenho de parar a operação pois o caixa estava sem dinheiro e me afastando indelicadamente para o lado tomou posse do referido caixa. Que porra é essa! Gritei revoltado, como pode uma coisa dessas! Puto da vida desrespeite a fila e procurei outro caixa onde algumas pessoas reclamaram da minha ação. Consegui meu intento, fui embora com os nervos a flor da pele. Volto para pegar a moto e o sacana do flanelinha soltou uma piada dizendo que de outra vez eu não estacionaria ali, foi a gota d'água, ameacei dá-lhe umas porradas e algumas pessoas presentes me acalmaram e fui embora, voltei para casa para relaxar, já que teria ainda mais tarefas a cumprir, iria tentar me recompor. No trajeto de volta para casa, na Rua Venceslau Braz, no bairro Paredões, vejo um aglomerado de pessoas, paro para ver o que era, um rapaz com aproximadamente dezoito anos sendo segurado por uns homens, outros surravam o moço, perguntei o que foi e uma pessoa presente falou que ele teria tentado um assalto a mão armada, ao fugir caiu da bicicleta e foi dominado, estava já cheio de hematomas pelo rosto quando a policia chegou dominando ele e dando mais uns tapas para ele entrar dentro da viatura, isso era 10h45min. Chego a casa onde moro, em frente ao Centro Clínico Professor Vingt-un Rosado, que é bastante movimentado, há muitos carros estacionados, olhei e vi que não podia subir a calçada para colocar a moto na garagem, havia muitos carro e três deles impedia minha entrada, parei, analisei, fiz a manobra na moto voltei a uma rua paralela conseguindo subir a calçada e transitar por ela uns trinta metro para entrar em casa.
Puxa vida que pedaço de dia desgastante, pensei. Entrei em casa, tomei um banho, meditei com o pensamento confuso e me interroguei o que estaria acontecendo neste dia, lembrei-me do filme UM DIA DE FÚRIA de Joel Schumacher, com Michael Douglas, 1993, neste filme um homem desempregado chega ao seu limite um dia durante um congestionamento e resolve combater a escória da sociedade ele mesmo. Será um dia inesquecível para William Foster (Michael Douglas) e o detetive que estava para se aposentar, Martin Prendergast (Robert Duvall), que tem a missão de encontrá-lo e capturá-lo na imensa Los Angeles. Estaria eu vivendo esse dia? Preferi pensar que não, iria tudo parar por ali, bastava eu me acalmar um pouco que tudo daria certo no restante do dia.
Almoço, descanso um pouco, mais calmo vou para a escola trabalhar. Chego à Escola Estadual Jerônimo Rosado, vejo um tumulto logo na entrada, alunos, professores e funcionários estão reunidos em frente a escola, intrigado pergunto o que ocorreu, eles mostraram um esgoto estourado, uma fedentina horrível estava entrando escola adentro, como também os canos da água tinham estourados junto com o esgoto, a escola estava sem água e o fedor não deixava haver aula. O diretor resolveu suspender as aulas e tomar as devidas providências.
Aproveito a folga, volto para o centro comercial da cidade para comprar uma peça do ventilador que estava quebrado, vou a Bel Peças solicito a peça e compro, na saída para meu espanto, dois homens de arma em punho entram numa loja em frente, paro, recuo e fico atrás de um pilar, após alguns minutos escuto tiros, agacho-me, assustado com o coração batendo aceleradamente e o medo tomando conta de mim, fico ali parado, acuado, tremendo mais "que vara verde'. Mais tiros. Após alguns minutos, que pareceu uma eternidade, dou uma olhada, vejo uma cena lamentável, dois ou três homens estão caídos no chão da calçada, começa a aglutinação de pessoas, chaga o SAMU, os três homens estavam mortos, um assaltante, o dono da loja e seu filho, uma verdadeira tragédia. Comovido retorno para casa.
Resolvi não mais sair de casa para nada, estava totalmente transtornado, comentei com minhas filhas e esposa o que tinha acontecido comigo durante o dia, sugeriram que eu rezasse, porém ando cético com esse tipo de coisa, creio que Deus se existir abandonou o mundo faz tempo, estou mais para ser ateu.
A noite estava no meu lar, mais tranqüilo, recebo um telefone de um amigo meu convidando para tomar umas cervejas lá no restaurante A Gauchinha para mostrar um plano de ação para desenvolver o jogo de xadrez na escola que ele trabalha, fico cismado, tinha prometido não sair entretanto a idéia de tomar uma cerveja gelada mudou meu pensamente, fui para lá, tomamos uma cervejas com churrasco enquanto debatíamos nosso plano. Às 21h30min recebo um telefonema da minha esposa, que angustiada pedia para eu ir para casa pois uns ladrões roubaram quatro cadeiras de nossa área, ela estava sozinha com as minhas filhas e com medo. Fui apressado, ao chegar a casa disse: - Escutem! Exclamei. - Quem souber rezar, orar, ou coisa do gênero, quem acreditar em Deus faça isso, fechem todas as portas, janelas. Peguei minha arma, coloquei perto de mim e afirmei: - O satanás que aparecer toro ele em dois, estamos é numa guerra civil disfarçada!
Este foi UM DIA DE CÃO, UM DIA DE MOSSORÓ, cidade que todo dia morrem duas pessoas assassinadas à tiros e já tem mais duas marcadas para morrer, o trânsito é caótico, roubos, assaltos, furtos, acidentes de trânsitos constantes com vitimas fatais, corrupção desvairada no setor público, povo omisso, tráfico de droga impera, rio poluído, dirigentes oligárquicos, uma cidade do caos. Despudoradamente ainda tem gente que diz "ADORO MOSSORÓ", "AMO MOSSORÓ", "MOSSORÓ DA GENTE". Digo eu, MOSSORÓ DO CÃO.


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